São tantas emoções.
Fellipe Martins Pereira
Mestrando em História pelo PPGH-UFF
O Brasil é ouro! Assim começou a segunda-feira, dia 05 de agosto, dos Jogos Olímpicos de Paris. Rebeca Andrade, genial ginasta brasileira de apenas 25 anos, superou no solo Simone Biles, para muitos a maior ginasta da história, e ganhou o ouro inédito para o Brasil no solo. Para além da medalha, Rebeca se tornou a maior vencedora da história dos esportes olímpicos do país, com 6 medalhas conquistadas no total!
Mas não foi apenas a nação brasileira que Rebeca encantou. Uma outra Nação, que tomarei a liberdade de escrever assim, com N maiúsculo, sofreu, torceu e chorou de emoção por ela. A Nação, torcida do Flamengo – clube que Rebeca treina desde criança -, resolveu exaltar a relevância poliesportiva do clube durante as olimpíadas. Com diversos atletas do clube representando o Brasil, os torcedores rubro-negros fizeram questão de recordar cada medalha conquistada por competidores do Flamengo ao longo dos tempos – e não foram poucas. O auge dessa vitoriosa história olímpica veio com o ouro e com o recorde de Rebeca, sem dúvidas.
Parecia o início de semana perfeito para a Nação. Infelizmente, não sabíamos que emoções de outra ordem tomariam conta do clube. Ainda durante o êxtase da vitória fomos atingidos em cheio por uma das notícias mais tristes que poderíamos receber. Adílio, multicampeão pelo Flamengo, um dos melhores jogadores que o esporte mais popular do mundo já viu desfilar em campo, nos deixava. Adílio havia sido internado na semana anterior e sua condição era delicada, mas isso em nada amenizou a dor de receber a notícia de seu falecimento.
Minha relação com o Adílio começou, como qualquer flamenguista, muito antes dele sequer saber da minha existência. Desde criança repetindo como mantra seu nome ao escalar de novo e de novo o time campeão mundial de 1981. Um pouco mais velho, quando a internet possibilitou, assistindo e reassistindo suas partidas, tendo um pequeno vislumbre daquele time incrível que a idade não me permitiu acompanhar. Conhecer os jogadores do Flamengo da década de 1980 sempre foi o objetivo do pequeno Fellipe, desde criancinha. E o primeiro que consegui realizar este antigo sonho foi justamente com o Adílio, o Brown para os mais chegados.
O ano era 2022, nos recuperávamos de uma pandemia horrível e, aos poucos, voltávamos para as ruas. Uma das minhas primeiras atividades presenciais de pesquisa – que iniciei durante a pandemia no curso de graduação em História da UFF – foi ir até a Gávea para fazer uma entrevista com Adílio. Eu não poderia estar mais nervoso. Nunca tinha entrado na Gávea e não sabia se estava tremendo por finalmente estar no clube do meu coração, ou se pelo encontro que em breve ocorreria e que eu ainda sequer conseguia acreditar. Parecia que eu entraria numa sala e falaria com ele pelo telão. Não acreditava que ele estaria ali, na minha frente, com um mero mortal. Mas ele esteve! E mais do que isso. Para aqueles que não tiveram o imenso prazer de conhecer o Adílio, farei um breve resumo que, com certeza, não fará jus à pessoa incrível que tive o prazer de conhecer naquele 22 de julho de 2022. Adílio não nos recebia acenando ou apertando as mãos. Adílio abria um sorriso que contagiava. Se você estava de mau-humor, era impossível a animação não tomar conta. Se você estava nervoso, como eu estava me tremendo de nervosismo por conhecer um ídolo, você relaxava. Adílio nos abraçou com um sorriso no rosto, nos levou até sua sala no clube e fez de tudo para disponibilizar o melhor ambiente possível para nossa entrevista. Não parecia uma entrevista com alguém que nos inspira, parecia uma conversa, com um amigo. Adílio, assim como fazia em campo com a bola, tirava todo o peso da conversa e tratava com leveza e agilidade. Ao final de cerca de duas horas de entrevista, eu me sentia conversando com um antigo amigo. Após a entrevista, tivemos conversas descontraídas. Meu ídolo conversando comigo como se me conhecesse há décadas, fazendo perguntas sobre a vida pessoal, dando conselhos amorosos e outras tantas conversas que, em poucos minutos, marcaram minha vida para sempre.
Como qualquer flamenguista, jamais esquecerei do Adílio. Mas se o jogador Adílio já era eterno, eu afirmo, jamais esquecerei de uma das pessoas mais humildes e simpáticas que tive a gigantesca honra de conhecer. No fim das contas, uma pessoa também de ouro. Jamais esquecerei de Adílio de Oliveira Gonçalves!
Que esteja em merecida paz! Saudações Rubro-Negras!
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